Montes de terra são criados só para elefantas brincarem em santuário de MT
As elefantas Kenya e Pupy, resgatadas de zoológicos na Argentina, reaprendem a viver livres em Chapada dos Guimarães
No Santuário de Elefantes Brasil (SEB), em Chapada dos Guimarães (MT), brincar é coisa séria. Periodicamente, a equipe de cuidados usa uma retroescavadeira para formar montes de terra e areia feitos especialmente para as elefantas africanas Kenya e Pupy. As duas, que passaram décadas em cativeiro, agora exploram livremente o ambiente, e os vídeos mostram que os momentos de diversão também são cheios de significado.
Kenya, de 44 anos, aproveita cada centímetro do monte. Cava com as patas e a tromba, joga terra para todos os lados, deita no solo e se cobre como se estivesse em um ritual de liberdade. Em um dos registros recentes, ela aparece esfregando o rosto com a tromba, sacudindo a cabeça e dando pequenos tapinhas no próprio rosto, gestos interpretados pelos cuidadores como sinais de prazer, alívio e reencontro com instintos há muito adormecidos.

Nova fase após décadas de confinamento
Kenya e Pupy não nasceram no Brasil. As duas viveram por mais de 30 anos em zoológicos na Argentina, sem acesso a ambientes naturais e convivência social adequada. A chegada ao SEB representa o início de uma nova fase: mais espaço, silêncio, liberdade e cuidado focado no bem-estar animal.
Pupy, de 35 anos, foi a primeira a desembarcar no santuário, em abril de 2025, vinda do Ecoparque de Buenos Aires. Kenya chegou em 9 de julho, vinda do antigo zoológico de Mendoza. Desde então, as duas vêm protagonizando momentos emocionantes, que mostram os primeiros sinais de curiosidade, aproximação e amizade.
Uma viagem de mais de 2 mil quilômetros
Para chegar a Chapada dos Guimarães, as elefantas precisaram enfrentar uma longa e delicada jornada. O transporte envolveu mais de 2 mil quilômetros de estrada e exigiu meses de preparação, com acompanhamento veterinário e técnicas de dessensibilização para que se sentissem seguras durante o trajeto.
No caso de Pupy, a viagem foi adiada em fevereiro de 2025 porque ela se recusou a entrar na caixa de transporte. Só viajou quando se sentiu confortável. Kenya passou pelo mesmo processo. Ambas foram respeitadas em seus tempos, algo que já simboliza a filosofia do santuário: cuidar com paciência e escuta.
Histórias marcadas por perdas
As trajetórias de Kenya e Pupy são marcadas por solidão e perdas. Pupy viveu por mais de três décadas no zoológico de Buenos Aires ao lado da companheira Kuky, que morreu meses antes da transferência para o Brasil. Já Kenya passou a vida sozinha no zoológico de Mendoza e estava em preparação para viajar com o elefante asiático Tamy, que faleceu em junho de 2025.
Essas despedidas tornaram o reencontro com a liberdade ainda mais simbólico. Agora, cada passo, cada gesto de confiança, é celebrado como parte do processo de cura.
Um lar entre gigantes
O SEB é uma organização sem fins lucrativos que atua na reabilitação física e emocional de elefantes resgatados de situações de maus-tratos, como circos e zoológicos. Localizado em uma área de mata extensa e protegida, o santuário não permite visitação turística. O objetivo é garantir tranquilidade e um ambiente livre de estresse humano.
Além de Kenya e Pupy, o SEB abriga outras cinco elefantas asiáticas: Maia, Mara, Bambi, Raia e Guilhermina, todas com histórias semelhantes de exploração. Quem deseja acompanhar o dia a dia pode fazê-lo pelas redes sociais da instituição ou contribuir com o projeto por meio da campanha “Adotar um Elefante”, que ajuda a financiar os cuidados das moradoras.
Tapinhas no rosto, roladas na terra e liberdade
Apesar de ainda estarem em fase de adaptação, Pupy e Kenya já demonstram sinais de recuperação e reconexão com os próprios instintos. O comportamento brincalhão de Kenya, por exemplo, é interpretado pela equipe como um marco no processo de bem-estar emocional.
Segundo os cuidadores, o rabinho balançando e o cuidado minucioso com o uso da terra mostram que ela está aprendendo a lidar com os novos estímulos e aproveitando cada momento.
Para quem assiste, pode parecer apenas diversão. Mas para Pupy e Kenya, rolar na terra é uma forma de cura. É o corpo dizendo que está livre, que pode confiar. É o espírito se reconectando com a natureza. E, para os humanos que acompanham, é o lembrete de que liberdade, respeito e cuidado ainda transformam histórias, mesmo depois de tanto tempo.
Veja vídeo abaixo:
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