A vingança brilhante

Acordei essa semana com um vídeo intrigante neste portal: uma moça descobriu que seu boy esteve com outra, e quando o confrontou, ele disse simplesmente “se vinga”. Bem, ela se vingou: pegou 2 sacos de glitter e espalhou por todo o apartamento do rapaz. Felizmente ela filmou, para que pudéssemos compartilhar deste entretenimento e claro, viralizou.

Antes de você dizer que achou desnecessário ou imaturo o comportamento dela, preciso te lembrar que os homens também costumam se vingar quando são traídos ou rejeitados, mas geralmente usam a violência ou a difamação para isso. Posso citar inúmeros casos de homens traídos ou trocados que assassinaram a mulher e alegaram “legítima defesa da honra”.

Se as mulheres se vingassem de traição como os homens fazem, teríamos um impacto demográfico gigantesco no planeta: seria preciso fazer as contas de quantos homens sobrariam para que as maternidades fossem necessárias. E isso não é engraçado.

A violência contra a mulher é tão normalizada que quando o vídeo da moça do glitter viralizou, vi inúmeros comentários dizendo “agora ela que espere a vingança dele” e outras barbaridades sugerindo que o ex teria o direito de ser violento com ela depois disso. Gente, estamos falando de um pote de glitter. Não de agressão, nem ameaça, nem carro quebrado, nem dano físico ou material. Foi apenas um pote de glitter.

As mulheres são tão constantemente ameaçadas, que têm medo até de brincar com uma coisa dessas. Parece que nem a zoeira é permitida para nós, mesmo quando ela é plenamente legítima e inofensiva. Devemos então aceitar a traição como ovelhinhas de presépio? Sem nem o direito a uma desforra boba? Ao prazer de rir enquanto a sociedade espera que ela viva um luto de meses e carregue sozinha a vergonha? Ah, não.

Já contei aqui A Maravilhosa História dos Camarões, a vingança mais engraçada que já ouvi. As seguidoras do tiktok serviram mais técnicas para “demonstrar o amor” após a traição: glitter comestível diluído em água, leite borrifado nas cortinas, óleo de sardinha injetado no colchão, carne moída em espaços pequenos, batata podre na calha, roubar pequenas engrenagens das coisas, as pilhas dos controles. Bobeiras, sem qualquer dano, mas ainda assim os comentários são “se ele se vingar disso, você morre”. Deu para entender a diferença, né?

Eu, piadista que sou, confesso que achei divertidíssima a ideia da moça do glitter. As pessoas reclamam que a sociedade está chata, mas parece que ela é chata só com as mulheres. Até o bom humor nos é desestimulado, pelo amor de Deus. Se diante de uma traição a gente não puder pegar uma pequena chave de fenda, desparafusar os aparelhos eletrônicos dele, cortar todos os fios e parafusar tudo depois, o que nos resta?

Os homens reclamam das feministas, mas sinceramente? Eles que deem graças a Deus que elas querem apenas igualdade. Se elas quisessem vingança, esse texto terminaria com um palavrão.

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