Comunicação e autismo: o desafio da inclusão

Compreender e respeitar as diferenças são passos importantes para combater as barreiras e o preconceito

A comunicação é um direito básico do ser humano, para sua dignidade e exercício da cidadania. Mas, para muitas pessoas autistas, ainda é um desafio cotidiano. O que parece simples para a maioria, como interpretar um gesto, compreender um tom de voz, participar de uma conversa informal, pode se transformar em barreiras, ruídos e mal-entendidos.

manual do autista
Nova versão da publicação do CNJ foi lançada neste mês. (Foto: divulgação/CNJ)

Essa realidade tem motivado reflexões em diferentes áreas da sociedade, inclusive no sistema de justiça. Recentemente, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) publicou a nova edição do
Manual de Atendimento a Pessoas do Transtorno do Espectro Autista reafirmando o compromisso com a acessibilidade e com o respeito à diversidade de formas de expressão. Mas o tema ultrapassa as fronteiras do Judiciário: diz respeito a todos nós, em casa, na escola, no trabalho e nos espaços públicos.

O que é comunicação acessível

Comunicar de forma acessível não significa apenas falar devagar ou usar palavras simples. Significa reconhecer que nem todos se comunicam da mesma forma e que adaptar a linguagem é um gesto de respeito, não de concessão.

Para Laudisséia de França Figueiredo, pessoa autista, com albinismo, deficiência visual severa e múltiplas deficiências, o desafio começa nas sutilezas: “A compreensão e o uso da linguagem não verbal são um desafio constante. Sarcasmo, ironia e certos tipos de humor, que dependem dessas pistas, podem ser bem difíceis de entender”, explica.

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Laudisséia de França Figueiredo é autista e integra grupos de estudos sobre acessibilidade
(Foto: arquivo pessoal)

Graduada em Direito e Pedagogia, técnica judiciária no Tribunal Regional do Trabalho da 23ª Região (TRT-MT) e integrante de grupos que discutem acessibilidade no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e no Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT), Laudisséia fala com autoridade sobre o tema.

Ela também é mãe de um adolescente autista e defende que a comunicação deve ser uma via de mão dupla: responsabilidade compartilhada entre pessoas autistas e não autistas. “A comunicação é uma dança, uma troca. Às vezes tenho dificuldade em iniciar ou manter uma conversa, em entender as regras sociais de ‘esperar a minha vez de falar’. Outras vezes, posso me empolgar com um assunto e falar por horas”, conta.

Quando as palavras precisam de tradução

Muitas pessoas autistas tendem a interpretar a linguagem de forma literal. Isso significa que expressões figuradas ou ambíguas, que são comuns na fala cotidiana, podem gerar confusão. “Eu compreendo muito melhor quando a linguagem é simples e direta. Evitar ambiguidades, sarcasmo e ironia faz toda a diferença”, orienta Laudisséia.

Essa característica, somada à sobrecarga sensorial (sons, luzes e cheiros intensos), pode tornar a comunicação ainda mais difícil. “Em ambientes com muitos estímulos, fica complicado processar o que está sendo dito. Às vezes, eu só preciso de um tempo a mais para entender e responder.”

Como facilitar a comunicação com pessoas autistas

Segundo Laudisséia, pequenas atitudes podem transformar a interação:

  • Falar de forma clara e objetiva, sem rodeios;
  • Dar tempo para que a pessoa processe a informação e formule uma resposta;
  • Valorizar todas as formas de expressão, sejam verbais, gestuais ou mediadas por tecnologia;
  • Usar apoios visuais e linguagem simples;
  • Explicitar regras sociais quando necessário, em vez de esperar que elas sejam “intuídas”;
  • Reduzir estímulos sensoriais que possam causar sobrecarga.

Essas práticas, reforçadas pelo manual do CNJ e por diversas organizações voltadas à inclusão, ajudam a construir uma comunicação mais empática e funcional, e podem ser aplicadas em qualquer contexto.

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Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Comunicação de primeira, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

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