Coração doado transforma luto em amor e une casal há 25 anos em MS

Leila e Celeidino tiveram o destino cruzado após decisão de salvar outras vidas

Ao autorizar a doação do coração do marido, em 1998, Leila jamais poderia imaginar que, anos depois, estaria se apaixonando pelo homem que recebeu o órgão transplantado. A história do casal que nasceu e vive em Mato Grosso do Sul é digna de filme de cinema.

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Leila e Celeidino estão casados há 22 anos (Foto: arquivo pessoal)

O início da jornada do casal começou em 1998, quando Leila, aos 24 anos, e com dois filhos pequenos, recebeu a informação de que o marido havia morrido. Diante da situação, disse aos médicos que não optaria pela doação dos órgãos. 

“Eu morava em Campo Grande e eu fiquei viúva […] Pela falta de informação, na época, eu me posicionei contra a doação de órgãos. Eu sabia que o desejo do meu finado esposo, ele queria ser doador […] Aí eu me posicionei contra na época. Só que o médico, a equipe de acolhimento no hospital, acabou me convencendo. Na verdade, eles disseram uma única frase que me convenceu. Falaram que eu podia manter ele vivo ainda, dentro de outra pessoa, mas que ali já estava tudo acabado”, relatou. 

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Na outra ponta da história estava Celeidino Vieira Fernandes, que à época, havia recebido a dura notícia por parte da medicina, que possuía no máximo 6 meses de vida, caso não encontrasse um coração compatível. 

No total, a busca durou 1 ano e meio, até que recebeu a feliz informação de que receberia um coração. A cirurgia foi um sucesso, assim como a recuperação após o procedimento. Porém, um ano depois, surgiu a vontade de conhecer a família que optou em salvar a sua via. 

Ao encontrar Leila, ambos iniciaram uma amizade que, dali para frente, evoluiu para uma bonita relação de amor e cumplicidade. 

“Quando ele se apresentou, falando que era o receptor do coração do meu finado marido, um ano após, eu levei um susto bem grande. Mas o Celeidino, sempre foi muito tranquilo, muito comunicativo. Aí me puxou, me abraçou, falou, escuta aqui o coração do teu marido”, recordou Leila.

Mesmo com a história de amor, Leila ressalta que, no início, a adaptação diante da situação foi difícil, afinal, Celeidino carregava o coração daquele que, um dia, também foi o seu amor. 

“É difícil explicar essas coisas assim. Sei que aí a gente acabou arrumando amizade […] Mas eu sou grato por tudo. Por tudo que aconteceu, porque ela é a minha vida”, afirma Celeidino.

O casal decidiu oficializar a união em 2003 e, atualmente, vivem em Jardim, onde construíram uma vida juntos.

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Casal celebra união após gesto de amor (Foto: arquivo pessoal)

Chance de uma nova vida

A aceitação do corpo de Celeidino ao coração transplantado foi um sucesso. Por 10 anos, pôde viver normalmente, mas acabou precisando entrar na fila do transplante, mais uma vez, quando enfrentou problemas renais. Em 2019, foi escolhido pela vida para receber outro órgão, desta vez, um rim. 

“Eu fiquei muito feliz. Acho que não deu tempo de levar um susto”, brincou. “Do transplante do rim, eu já fiquei mais nervoso. Mas o do coração, nem deu tempo de pensar. Só que eu sou um cara muito entusiasmado, eu sempre acredito que vai dar certo. E aí, sempre dá certo”, afirma.

Celeidino celebra ser a prova viva de que o transplante funciona. Ao lado da esposa, defende que histórias como a deles ajudam a conscientizar a respeito da importância da doação. 

“Eu acho que após a morte, geralmente, as famílias não querem [doar], tem umas que têm problema de religião e tal, mas o que eu digo é o seguinte: você sempre vai estar salvando alguém. Então, eu digo que vale a pena pensar no assunto. E saber que você pode sempre salvar alguém. A mensagem que eu deixo é que vale a pena ser doador de órgãos porque tem muita gente sofrendo”, finaliza Celeidino.

Para Leila, que lá atrás quase negou a autorização de doação de órgãos do falecido marido, além da história de amor, é essencial falar sobre o tema e incentivar a doação. 

“Hoje eu penso diferente sobre a questão da doação. Não só porque a gente construiu uma história bonita em cima disso, que tivemos essa chance, mas é importante, sabe? Tem muitas pessoas realmente precisando na fila do transplante, tem muita gente precisando de órgão. Então é necessário o incentivo e, principalmente, destacar a ação das equipes de acolhimento dos hospitais, que fazem muita diferença”, finalizou Leila.

Além de Celeidino, os órgãos doados à época ajudaram outras 5 pessoas. O artigo 52 do Decreto nº 9.175/2017, que regulamenta a Lei de Transplantes no Brasil, estabelece que, em casos de doação de órgãos após a morte, deve ser preservada a identidade tanto dos doadores em relação aos receptores quanto dos receptores em relação às famílias dos doadores. Porém, as manifestações dos familiares dos doadores são respeitadas conforme os direitos individuais.

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