Quando a conversa é com você mesmo

Saiba como transformar seu diálogo interno em um aliado, não um inimigo

Geralmente, quando pensamos em aprimorar a comunicação, olhamos para fora: como falar melhor, ser compreendido, influenciar ou inspirar o outro. Há quase três anos, esta coluna traz reflexões e dicas sobre como melhorar as relações interpessoais e profissionais por meio da comunicação. Mas há uma dimensão igualmente importante e muitas vezes esquecida: a forma como nos comunicamos conosco mesmos.

Para entender por que essa comunicação interna é tão decisiva para o equilíbrio emocional e o desempenho pessoal, conversamos com Beatriz Bruehmueller, psicóloga, trainer em Programação Neurolinguística (PNL) e escritora.

ilustracao coluna Luzi
(Ilustração feita por IA)

A conversa que molda sua realidade

Segundo Beatriz, “a comunicação interna é o filtro primário através do qual toda a realidade é processada”. Em outras palavras, a maneira como você fala consigo mesmo determina o que sente, como reage e até os resultados que obtém.

Essa autocomunicação tem três pilares principais:

1️⃣ Mental e emocional: o diálogo interno influencia diretamente o humor, a autoestima e o bem-estar. Uma conversa interna crítica e pessimista pode gerar ansiedade, estresse e até depressão.

2️⃣ Criação de crenças: pensamentos repetidos formam rotas mentais que se tornam hábitos e crenças. “O que repetimos internamente se torna nossa realidade percebida”, explica Beatriz.

3️⃣ Motivação e ação: o modo como você se instrui e se avalia afeta sua capacidade de agir e persistir. O diálogo interno pode ser seu pior sabotador ou seu melhor incentivador.

Ignorar essa comunicação é deixar que o “piloto automático” mental, muitas vezes programado por experiências negativas, continue guiando suas decisões.

O que você anda dizendo a si mesmo?

As conversas interiores acontecem o tempo todo em forma de palavras, imagens ou sensações. Na PNL, essa voz interna é chamada de Sistema Auditivo Digital, e ela raramente é neutra.

Para muita gente, o padrão é negativo e cheio de distorções. Três vozes internas são as mais comuns:

  • O Crítico: julga e condena o tempo todo (“Você nunca faz nada direito”).
  • O Profeta: prevê desastres futuros (“Vai dar errado de novo”).
  • A Vítima: lamenta e reforça a impotência (“Nada dá certo comigo”).

Beatriz destaca que não é só o conteúdo que importa, mas também o tom dessa voz. Um pensamento neutro, se dito com voz agressiva, pode causar mais dano emocional do que uma frase negativa dita com calma.

Beatriz
Beatriz Bruehmueller afirma que é necessário que o diálogo interno seja construtivo. (Foto: arquivo pessoal)

Transformando o crítico em aliado

O objetivo não é silenciar o diálogo interno, mas transformá-lo em uma conversa construtiva. Beatriz Bruehmueller explica que isso pode ser feito em três níveis:

1️⃣ O conteúdo — o que você diz

  • Troque “Eu sou” por “Eu estou”. (“Eu sou um fracasso” → “Estou frustrado com esse resultado”).
  • Foque na solução, não na culpa. (“O que aprendi com isso?” em vez de “Por que fiz isso?”).
  • Faça perguntas empoderadoras. (“Como posso lidar melhor com isso?”).
  • Use linguagem de possibilidade. (“Ainda não consigo fazer isso, mas estou aprendendo”).

2️⃣ A estrutura — como você diz

A PNL ensina a alterar as submodalidades sensoriais para mudar o impacto da mensagem.

  • Mude o tom da voz interna: imagine seu crítico falando com voz de desenho animado.
  • Modifique as imagens mentais: reduza o brilho, a cor, o tamanho das lembranças negativas.

3️⃣ A consciência — quem observa

Antes de mudar, é preciso observar. Quando você se dá conta de que seus pensamentos não são você, cria um espaço entre o que pensa e o que sente. Esse espaço é o início da liberdade emocional, onde surge a escolha de como responder a si mesmo.

Em resumo: a voz que mais ouvimos na vida é a nossa própria — e é ela que pode nos impulsionar ou nos sabotar. Por isso, cultivar um diálogo interno gentil, consciente e orientado para o aprendizado é um dos passos mais poderosos para desenvolver equilíbrio emocional, clareza mental e autoconfiança.

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Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Comunicação de primeira, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.