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Quando a guerra parece longe, mas esvazia o seu bolso

Ignorar o que está acontecendo por lá, achando que “não tem nada a ver comigo” é um erro que pode custar caro.

Lá do outro lado do mundo, bombas explodem, aviões sobrevoam cidades em alerta e tropas avançam em mais um capítulo tenso da guerra no Oriente Médio. A disputa entre Irã, Estados Unidos e grupos armados da região pode parecer um problema exclusivo deles, mas não é.

Ignorar o que está acontecendo por lá, achando que “não tem nada a ver comigo” é um erro que pode custar caro. Literalmente. Porque, enquanto a guerra se desenrola nos noticiários internacionais, os efeitos já começam a aparecer no nosso dia a dia, silenciosos, mas certeiros.

impactos da guerra na economia
Quando a guerra parece longe, mas esvazia o seu bolso. (Foto: Ilustrativa/Reprodução)

Sim, o conflito está longe. Mas o reflexo dele está bem aqui, no preço do arroz, no valor da gasolina e até na conta do cartão de crédito. E entender isso é essencial para se proteger e fazer escolhas melhores.

Nesse contexto, o petróleo entra como peça importante do quebra-cabeça. O Oriente Médio é uma das regiões que mais produzem petróleo no mundo. E, quando há conflito, o medo de interrupções na produção ou no transporte faz o preço do barril subir no mercado internacional, e óbvio que isso afeta nosso bolso aqui.

O Brasil, apesar de ser produtor, importa parte dos combustíveis refinados e segue os preços globais. Ou seja: a guerra pressiona o valor da gasolina, do diesel e do gás de cozinha por aqui. E, com isso, tudo o que depende de transporte ou energia também encarece, alimentos, roupas, eletrodomésticos, serviços…

É um efeito cascata. E quem mais sente são as famílias de renda mais baixa, que já gastam grande parte do que ganham com transporte, alimentação e contas básicas.

O dólar também entra nessa conta. Conflitos armados aumentam a sensação de risco no mundo. Investidores internacionais, com medo, retiram dinheiro de países como o Brasil. O resultado? O dólar sobe, o real perde valor e a Bolsa de Valores despenca.

E mesmo que você nunca tenha comprado uma ação na vida, esse movimento afeta você.

Com o dólar nas alturas, tudo o que depende de importação fica mais caro: medicamentos, celulares, computadores e até ração para o seu pet. Além disso, o Brasil importa grande parte dos fertilizantes usados no campo, e quando o fertilizante sobe, o preço da comida também sobe.

E lá vem a inflação de novo. Só que o salário valendo menos. Com combustíveis, fertilizantes e produtos importados mais caros, os preços sobem em cadeia. A inflação volta a apertar, e com ela, o poder de compra do seu salário diminui. Sua reserva de emergência perde valor. Aquela parcela que parecia leve, agora começa a pesar.

Não é exagero: a guerra, mesmo sem tocar o nosso território, mexe diretamente com o nosso bolso.

O que você pode fazer, na prática

Você não pode impedir uma guerra, mas pode tomar decisões inteligentes para blindar sua vida financeira. Aqui vão ações práticas, reais e aplicáveis agora mesmo:

1. Fuja de dívidas longas com juros altos

· Antes de parcelar uma compra em 12 vezes, pense: vou conseguir pagar até o fim sem comprometer meu orçamento?

· Se tiver empréstimos com juros elevados, tente renegociar ou quitar o quanto antes.

· Adiar uma compra pode ser mais vantajoso do que pagar 2 ou 3 vezes mais por ela no longo prazo.

2. Reduza excessos com consciência, não com culpa

· Não precisa cortar tudo. Mas observe: você realmente usa todos os serviços de streaming? Precisa pedir delivery 3 vezes por semana?

· Faça uma lista de gastos mensais e identifique 2 ou 3 que você pode suspender ou trocar por versões mais acessíveis.

· Pequenas mudanças somadas mês a mês fazem diferença no final do ano.

3. Faça compras com estratégia, não por impulso

· Planeje as compras do mês antes de sair. Vá ao mercado com lista e barriga cheia (isso reduz compras desnecessárias).

· Aproveite feiras, promoções de hortifrúti e atacadões, e congele alimentos quando possível.

· Combinar compras com vizinhos ou familiares para dividir porções maiores pode gerar economia.

4. Prefira investimentos que protejam seu dinheiro agora

· Evite aplicar em produtos que exigem prazos longos ou que oscilam demais, a não ser que você entenda bem os riscos.

· Se você está começando ou quer segurança, o Tesouro Selic é uma excelente opção: protege contra a inflação e tem liquidez diária.

· Já tem reserva? Reavalie se ela está rendendo bem. Deixar o dinheiro parado na poupança hoje pode ser um erro caro.

5. Tenha uma reserva, mesmo que pequena

· Não espere sobrar para guardar. Comece com o que tem: R$ 50, R$ 100 por mês. O importante é criar o hábito.

· Uma reserva bem montada traz segurança para enfrentar momentos como esse, e evita entrar no rotativo do cartão por qualquer imprevisto.

Entender economia é uma forma de se defender

Enquanto muitos preferem mudar de canal quando o assunto é guerra ou finanças, a conta continua chegando, nos preços, nas tarifas e no extrato bancário. Fingir que nada disso nos afeta não resolve. Pelo contrário: nos deixa ainda mais vulneráveis.

Aqui na Faça as Contas, o meu convite é simples: abra os olhos, questione, observe os movimentos do mundo e conecte com a sua realidade.

Porque, sim, a guerra está longe, mas os efeitos estão aqui, e ignorá-los é o caminho mais rápido para perder o controle da própria vida financeira.

Na Coluna Faça as Contas, a gente fala de números, sim, mas, principalmente, fala de escolhas. Porque entender o impacto da guerra no seu bolso não é só sobre economia internacional, petróleo ou câmbio. É sobre enxergar como decisões que parecem distantes interferem na sua mesa, no seu orçamento e no seu futuro.

Toda semana, trazemos esse convite: que você pare, observe e pense com mais profundidade antes de gastar, investir, se endividar ou consumir. Informação é ferramenta. Consciência é proteção. E num mundo tão instável, fazer as contas deixou de ser apenas um dever, virou um ato de resistência.

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Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Faça as contas, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.