“Justiça foi feita, mas a dor continua”, diz pai de vítimas da chacina de Sorriso

Para Regis Cardoso, a decisão desta quinta-feira foi um passo importante para que as vítimas não sejam esquecidas.

Regis Cardoso, marido e pai das vítimas da chacina de Sorriso, afirmou nessa quinta-feira (7) que a condenação de 225 anos de prisão imposta a Gilberto Rodrigues dos Anjos representa justiça, mas não ameniza a dor da perda.

O pedreiro foi sentenciado por feminicídio, estupro e estupro de vulnerável contra Cleci Calvi Cardoso, de 45 anos, e suas três filhas, em novembro de 2023.

Regivaldo Batista Cardoso
Regivaldo Batista Cardoso é pai e marido das vítimas da chacina de Sorriso. (Foto: reprodução/Instagram)

“Foi uma sentença muito boa. Graças a Deus, todos os jurados foram unânimes na sentença do réu, o juiz também foi certeiro. Dos 225 anos, ele vai cumprir 40, que é o devido, e com certeza não vai colocar o pé dele nunca mais fora da cadeia. Estou satisfeito com a sentença. Não vai trazer elas de volta, nem diminuir o sofrimento, mas a justiça foi feita”, declarou Regis, emocionado, logo após o encerramento do júri popular.

O julgamento, realizado no Fórum de Sorriso, durou mais de dez horas e foi concluído com a leitura da sentença pelo juiz Rafael Deprá Panichella.

O magistrado ressaltou que as penas foram aplicadas de forma individualizada para cada vítima e destacou a gravidade dos crimes, classificados como feminicídio triplamente qualificado, com causas de aumento, além de estupro e estupro de vulnerável.

Gilberto, de 32 anos, acompanhou a sessão por videoconferência, diretamente da Penitenciária Central do Estado (PCE), onde segue preso. Ele foi condenado por quatro feminicídios triplamente qualificados e três estupros, dois deles contra menores de idade.

O réu participa por videoconferência. (Foto: TJ-MT)
O réu participa por videoconferência. (Foto: TJ-MT)

O crime

O crime, ocorrido em 27 de novembro de 2023, chocou o município. Cleci e as filhas Miliane, 19 anos, Manuela, 13, e Melissa, 10, foram encontradas mortas em diferentes cômodos da casa, no bairro Florais da Mata.

As duas meninas mais novas estavam no quarto, enquanto Cleci e Miliane foram localizadas no corredor. Exames apontaram que as três irmãs sofreram violência sexual e que Melissa morreu por asfixia.

Gilberto trabalhava como pedreiro em uma obra vizinha e, segundo a Polícia Civil, conseguiu invadir a residência mesmo com os mecanismos de segurança, que incluíam cerca elétrica e cães de grande porte. Ele foi preso dias depois, confessou os assassinatos e, desde então, aguardava julgamento.

Para Regis Cardoso, a decisão dessa quinta-feira foi um passo importante para que as vítimas não sejam esquecidas. “Elas não voltam mais, mas pelo menos a Justiça mostrou que a vida delas importava”, concluiu.

Família das vítimas acompanha o julgamento do reú. (Foto: TJMT)
Família das vítimas acompanharam o julgamento do reú. (Foto: TJMT)

Lei anti-feminicídio

Embora o caso tenha inspirado o chamado Pacote Antifeminicídio, de autoria da senadora Margareth Buzetti (PSD), o réu será julgado conforme a legislação anterior, que prevê pena máxima de 30 anos e enquadra o feminicídio apenas como uma forma de homicídio qualificado.

A aplicação da nova lei, mais rigorosa, não é possível neste processo por causa do princípio da irretroatividade. No Direito, esse princípio impede que normas penais mais severas sejam aplicadas a crimes cometidos antes de sua entrada em vigor, garantindo que o réu seja punido de acordo com as regras existentes à época dos fatos.

Buzetti acompanhou todo o julgamento. Ela classificou o crime como a “reencarnação do mal” e disse ter sentido “uma grande impotência” diante da violência cometida.

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Após condenação de 225 anos, Buzetti defende penas mais severas para crimes brutais. (Foto: TJ-MT)

“Foi um homem perverso, mau, horroroso, que matou com os maiores requintes de crueldade quatro mulheres. Pegou 225 anos de cadeia, mas o máximo que ele poderá cumprir é 40 anos”, afirmou Buzetti. Ela destacou que, durante o julgamento, a defensoria cumpriu seu papel, mas não havia argumentos capazes de justificar o ato.

A senadora relatou que esteve ao lado da família das vítimas durante todo o julgamento. “Pensei na dona Sueli, mãe e avó, que estava do meu lado, no seu Régis, pai e marido, nas irmãs… é algo inexplicável. A justiça foi feita, a justiça dos homens. Espero que a justiça divina também venha, porque só ela pode aliviar a dor dessa família”, disse.

Buzetti afirmou que a experiência reforçou sua determinação em lutar por penas mais duras para crimes de feminicídio e extrema violência. O caso, que ela acompanhou desde o início, foi um dos que inspiraram o Pacote Antifeminicídio, de sua autoria, já aprovado no Senado.

“O que eu vi hoje me deixou ainda mais decidida a buscar mudanças na lei para que crimes como esse sejam punidos com maior rigor”, completou.

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