TCE-MT descobre falhas em 63 mil contratos de consignados

Auditoria do TCE-MT encontrou mais de 60 mil contratos com falhas como CPF divergente, ausência de assinatura e dados incompletos de servidores

O Tribunal de Contas de Mato Grosso (TCE-MT) identificou falhas em mais de 63 mil contratos de empréstimos consignados firmados por servidores públicos do Estado. A análise foi feita por meio da plataforma Fiscaliza Consignados, criada para mapear irregularidades e oferecer maior transparência na concessão de crédito aos servidores.

Empresas têm até quinta para enviar contratos de consignado ao TCE. (Foto: assessoria)
TCE-MT descobre falhas em 63 mil contratos de consignados (Foto: assessoria)

Dos 90.149 contratos enviados por instituições financeiras, apenas 27.331 foram considerados válidos. Os demais apresentaram inconsistências como ausência de assinatura, divergência de CPF, identificação incompleta do servidor e incompatibilidades com os dados da Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag). Ao todo, foram analisados mais de 102 mil arquivos, entre contratos e documentos complementares.

O relatório foi homologado pelo presidente do TCE-MT, conselheiro Sérgio Ricardo, durante sessão ordinária nesta terça-feira (5). Segundo ele, os dados revelam um cenário de desorganização sistêmica. O tribunal determinou que a Seplag mantenha suspensos os descontos dos contratos firmados com a Capital Consig, medida que já havia sido adotada em fiscalizações anteriores.

Também foram identificadas instituições financeiras que não atenderam às notificações do tribunal, como o Banco Master e a NIO Meios de Pagamento. Já os contratos enviados pelos bancos Arbi e Inbursa cumpriram os requisitos mínimos de regularidade e foram validados.

A investigação é conduzida pela Comissão Permanente de Normas, Jurisprudência e Consensualismo (CPNJur), presidida pelo conselheiro Valter Albano e com relatoria do conselheiro Campos Neto. Para Albano, o volume de desinformação encontrado nos contratos é representativo e reflete a falta de controle em uma relação tipicamente privada que precisa ser auditada pelo poder público.

O vice-presidente do TCE-MT, conselheiro Guilherme Antonio Maluf, autor do pedido de instalação da mesa técnica, afirmou que a iniciativa será um divisor de águas na concessão dos consignados. O objetivo, segundo ele, é revisar contratos com um olhar mais humano e garantir que os servidores tenham acesso a canais de atendimento eficazes. Também está prevista a criação de um programa de educação financeira voltado à prevenção do superendividamento no funcionalismo.

A força-tarefa segue em andamento e deverá orientar novas medidas administrativas e legais com base nas conclusões do relatório. O documento também será enviado ao Executivo estadual, que deve adotar providências com relação às instituições financeiras irregulares e à proteção dos servidores afetados pelos contratos inconsistentes.

Em nota, a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag-MT) informou que vai notificar todas as empresas apontadas pelo TCE por não entregar os documentos solicitados para se adequarem ao determinado.

Veja abaixo a nota da Seplag na íntegra:

O Governo do Estado de Mato Grosso adotou uma série de medidas, especialmente a mudança de normas com o objetivo de coibir abusos, fortalecer os mecanismos de controle e proteger os servidores. Nesse sentido, foram editados os Decretos nº 1.441/25, que instituiu a revisão preventiva de todas as consignações em folha, e Dec. nº 1.454/25, que criou uma força-tarefa interinstitucional para apuração das irregularidades.

Em complemento, foram sancionadas as Leis nº 12.933 e nº 12.934, ambas de 18 de junho de 2025, que, respectivamente, estabeleceram novos critérios para o credenciamento de instituições consignatárias, vedaram a utilização de cartões de crédito e cartão benefício, limitaram a margem consignável e proibiram a cobrança de taxas administrativas nas operações consignadas.

Outras ações estão sendo avaliadas e tomadas no âmbito da Força Tarefa instituída pelo Decreto n. 1454/2025, bem como pela Mesa Técnica n. 04/2025 instalada pelo TCE, que conta com a participação da Assembleia Legislativa e outros órgãos.

Além disso, a Seplag está com um processo licitatório em andamento para a contratação de um novo sistema de administração e gestão de margem consignável, que prevê diversas medidas para a proteção do servidor tais como aplicativo, autorização mediante senha a cada operação de consignação realizada, o armazenamento dos contratos realizados entre outras medidas.

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