Tenente dos Bombeiros vira ré por tortura

Tenente já foi condenada por maus-tratos que culminaram na morte de outro aluno

A tenente Izadora Ledur de Souza Deschamps, do Corpo de Bombeiros, virou ré por tortura contra um aluno durante treinamento da instituição. A decisão é do juiz Marcos Faleiros, da 11ª Vara Criminal de Cuiabá, que acolheu nova denúncia do MPE (Ministério Público Estadual) contra a militar, no dia 3 de fevereiro.

Ledur, que já foi condenada por maus-tratos que culminaram na morte de Rodrigo Claro em novembro de 2016, agora é acusada de tortura e maus-tratos contra Maurício Júnior dos Santos, que participou de um treinamento de salvamento aquático da corporação em 2016, que tinha a militar à frente. 

O advogado da tenente, Huendel Rolim, disse que ainda não foi citado da decisão judicial.

tenente Izadora Ledur
Tenente Ledur era instrutora do curso dos bombeiros em Cuiabá. (Foto: Câmara Municipal de Barra do Garças| Reprodução)

Denúncia do Ministério Público

A denúncia do MPE foi assinada pelo promotor de Justiça Paulo Henrique Amaral Mota em 21 de janeiro. No documento, ele acusa a tenente de submeter a vítima “a intenso sofrimento físico e mental, como forma de lhe aplicar castigo pessoal”.

O aluno havia sido convocado para o curso ainda em 2015 e após alguns testes foi aprovado e passou a integrar o 15º Curso de Formação de Soldados do CBM. 

No dia em que a tortura teria acontecido, o aluno foi submetido a diversos treinamentos físicos, que começaram por volta das 7h da manhã, com a travessia da Lagoa Trevisan, ondes os testes eram realizados. 

Após realizar os exercícios preliminares, Maurício teria tido câimbras e foi auxiliado por outros alunos. Durante esse percurso, Ledur teria pedido que os demais alunos seguissem com o percurso e o deixasse para trás. 

Depois de ser afogado diversas vezes e sem forças para sair da água por ter engolido muito líquido, ele teria gritado por socorro, segurando nos braços da tenente. Ainda assim, de acordo com o MPE, foi repreendido: “Você está louco? Aluno encostando em oficial”.

A denúncia cita que a sessão de tortura só acabou quando o aluno perdeu a consciência. Ao acordar e sabendo que as torturas continuariam, Maurício decidiu abandonar o treinamento, mesmo a tenente tendo gritado para que ele voltasse para a água.

Depois de vomitar muito e sentir dores de cabeça, o rapaz desmaiou novamente e precisou ser encaminhado à Policlínica do Coxipó para atendimento médico. O prontuário apontou que ele “foi submetido a esforço físico desgastante, sofreu desmaio, vômitos, 3 episódios, tremor e dor torácica”.

Juiz acolhe denúncia

Em sua decisão, assinada em 3 de fevereiro, o juiz Marcos Faleiros afirmou que “nos autos existe material probatório mínimo e potencialmente apto a deflagrar a persecução penal”.

O interrogatório da acusada será no final da instrução processual. Seis testemunhas de acusação foram intimadas para serem ouvidas em 17 de março, às 15h.