Biografia, quadrinhos e autoficção em debate na Flib

Autores discutem processos criativos e o papel das narrativas pessoais no mercado editorial

A literatura em quadrinhos e suas possibilidades estiveram em evidência na Feira Literária de Bonito (Flib). O encontro reuniu o quadrinista e designer gráfico Dudu Azevedo e o autor, muralista e editor Fábio Quill para discutir o espaço da biografia e da autoficção nas histórias em quadrinhos, bem como o diálogo dessas narrativas com o mercado editorial e o contexto digital atual, mediada por Daniel Rockenbach.

Encontro discutiu histórias em quadrinhos na Flib
Encontro discutiu histórias em quadrinhos na Flib

Os autores destacaram o valor da biografia como registro único da experiência humana, contrapondo-a à ficção produzida por máquinas e pelas novas tecnologias de inteligência artificial. O mediador citou obras de referência como Persépolis, Fun Home e Maus, que marcaram gerações e também inspiraram a produção de Dudu Azevedo.

Dudu apresentou sua HQ, “Biografia Não Autorizada da Minha Avó que Viveu em Marte”, um trabalho que mistura memória, realismo fantástico e ambientação sci-fi. O autor contou que o processo envolveu o desafio de condensar a história em três atos, representando diferentes fases da vida da avó. Produzida de forma artesanal, a obra deve ganhar no futuro uma versão em livro ilustrado.

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Outro trabalho em destaque foi “Sonhos Selvagens”, HQ de autoficção que nasceu da angústia de ser artista em Mato Grosso do Sul e da troca de experiências com outros criadores. Com uma narrativa que mescla realidade e imaginação, Dudu distribui parte da produção em formato de zine, muitas vezes de forma gratuita, como forma de aproximar leitores de vivências comuns a quem busca fazer arte fora dos grandes centros.

Já Fábio Quill, compartilhou sua experiência com Casa Baís, seu primeiro trabalho longo, inspirado na vida e na obra da artista sul-mato-grossense Lydia Baís. O autor relatou que a motivação surgiu após conhecer a casa da pintora em Campo Grande e perceber o contraste entre sua pouca visibilidade e a projeção de outros nomes, como Manoel de Barros.

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O artista traçou paralelos entre Lydia Baís e Frida Kahlo, principalmente após visitar a Casa Azul, no México, onde viveu a pintora mexicana. Inicialmente sem a intenção de produzir uma biografia, Fábio contou que foi o mergulho no universo da artista e a paixão das pessoas próximas a ela que o levaram a transformar a experiência em narrativa gráfica. Além de Casa Baís, ele também comentou sobre obras como Onírica e a coletânea Quebra Porto, que ampliam seu diálogo entre arte visual, literatura e memória.

A intervenção deixou clara a potência da biografia e da autoficção nos quadrinhos contemporâneos, na criação regional, não apenas como registros pessoais, mas como forma de resistência artística e cultural diante das transformações do mercado editorial e do avanço da inteligência artificial.

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