"Espécie de selva controlada", Itamar Vieira Junior reflete sobre poder da literatura
Autor dos livros "Torto Arado" e "Salvar o Fogo", participou pela primeira vez da Bienal do Livro de Campo Grande
O escritor Itamar Vieira Junior, autor dos livros premiados “Torto Arado” e “Salvar o Fogo”, participou pela primeira vez da Bienal do Livro de Campo Grande, evento que estreou neste ano no calendário cultural de Mato Grosso do Sul. Em entrevista ao Primeira Página, o baiano falou sobre o poder transformador da literatura, suas inquietações como autor e a presença constante da família em suas narrativas.
Assista entrevista na íntegra:
“É uma honra imensa poder estar aqui inaugurando esse projeto tão bonito. Espero que continue fazendo parte do calendário cultural do Mato Grosso do Sul”, afirmou Itamar, sobre a realização da primeira Bienal do estado.
Formado em geografia e servidor público do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), o autor contou que a paixão pela escrita o acompanha desde a juventude, mesmo antes de imaginar que poderia viver da literatura.
“O interesse pela leitura e pela escrita me acompanha desde cedo. Eu só não sabia que isso era uma profissão que eu poderia circular e viver como escritor. Foi o tempo que me mostrou que eu podia viver como escritor”.
Itamar Vieira Júnior
“Segui outro caminho, me tornei geógrafo, servidor público, e só quando me senti seguro para apresentar aquilo que eu escrevia é que comecei a mostrar”, completou.
Inquietações que viram literatura

Para Itamar, a origem de suas histórias está nas questões humanas e sociais que o inquietam. O autor reforça que sua escrita é atravessada por um sentido político e por um olhar sobre as desigualdades do país.
“Tudo aquilo que me inquieta, que me incomoda e que pode ser pensado a partir da literatura, me move a escrever”, disse.
“A escrita nunca é desprovida de sentido. Ela carrega inquietações da vida, aquilo que chamamos às vezes de política”.
Essas inquietações, segundo ele, estão no centro de obras como “Torto Arado” e “Salvar o Fogo”.
“Muitos ainda vivem privados do direito à terra, do direito ao território, se esse é um direito elementar de todo ser vivo. Acho que sempre parto dessas inquietações para poder escrever.”
Itamar Vieira Júnior
Em tempos de crises climáticas e digitais, o escritor defende a literatura como uma ferramenta essencial para a empatia e o autoconhecimento.
“Vivemos num mundo cheio de transformações. A crise climática afeta as pessoas de maneiras diferentes, e a literatura permite experimentar e compreender isso”, destacou.
Itamar reforça que a leitura é um caminho para o exercício da alteridade, a capacidade de se colocar no lugar do outro.
“A literatura é uma espécie de selva controlada, onde a gente se confronta com o que é humano. Quando fechamos o livro, ainda saímos íntegros, mas podemos sair modificados, talvez mais preparados para enfrentar a vida.”
Família e o núcleo das histórias
Um dos traços mais marcantes da obra de Itamar é a presença da família como espaço de conflitos e afetos. Para o autor a família pode representar a sociedade e ensinar a viver em conjunto com o todo.
“A família é o microcosmo de uma sociedade. É nela que encontramos os desafios que vamos encontrar na vida, nos relacionamentos, nos desafio nas diferenças que vamos enfrentar na vida.”
O autor confirma que esse tema estará novamente presente em seu próximo romance, “Coração Sem Medo”, que estreia no dia 13 de outubro de 2025.
“A família representa essa unidade, que muitas vezes não é sentida mas pode ser despertada. A família sempre nos dá esse senso coletivo que todos devemos carregar. Não somos indíviduos, nossa vida não existe dividida, apartada do todo.”
O escritor
Vencedor de diversos prêmios literários, o autor tem se destacado com suas quatro obras publicadas, que conquistaram tanto o público quanto a crítica.
Itamar Vieira Júnior já recebeu importantes prêmios, como o Leya, o Oceanos e o Jabuti. Um dos seus romances, Torto Arado, é considerado um dos maiores sucessos da literatura brasileira contemporânea.
O livro já foi traduzido para mais de vinte países e está em fase de adaptação para o audiovisual. Seus últimos três livros “Torto Arado”, “Salvar o Fogo” e “Coração sem Medo”, formam uma trilogia Terra, criada para contar histórias brasileiras e suas lutas e relações cotidianas.
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