Onças de milhões: quanto custa cada onça-pintada no Pantanal?
Uma única onça-pintada avistada no Pantanal do Porto Jofre (MT) pode faturar mais de R$ 50 mil.
Uma única onça-pintada (Panthera onca) avistada no Pantanal do Porto Jofre pode faturar mais de R$ 50 mil, conforme levantamento de guias de turismo. Este valor é impulsionado por mais de 100 pessoas que se reúnem na área, deixando mais de R$ 500 por dia no ecossistema pantaneiro apenas para ter a oportunidade de observar este predador.

A onça-pintada, espécie bandeira e atração central do ecoturismo na maior planície alagável do mundo, tem um valor econômico que não apenas justifica sua conservação, mas que também supera largamente os custos que ela impõe à pecuária local.
Em um vídeo publicado nas redes sociais, o biólogo Hugo Fernandes explicou que o ecoturismo movimenta a economia pantaneira há bastante tempo, veja abaixo:
O estudo que avalia o turismo e a depredação de gado pela onça-pintada no Pantanal Brasileiro, feito pelos pesquisadores Fernando Tortato, Thiago Izzo, Rafael Hoogesteijn e Carlos Peres, foi publicado em 2017, forneceu as primeiras estimativas transacionais do valor monetário mínimo do turismo baseado na onça nas Américas.
A pesquisa, focada na região do Parque Estadual Encontro das Águas (EASP) e arredores, em Mato Grosso, apurou que o ecoturismo de onças-pintadas representou uma receita bruta anual de mais de 6,82 milhões de dólares em 2015. Este valor foi calculado com base nas receitas mínimas de hospedagem e alimentação de sete pousadas na área de Porto Jofre.

Em contrapartida, os custos agregados da depredação de onças sobre o gado bovino na mesma área, foram estimados em apenas 121 mil dólares por ano.
A discrepância é impressionante: a receita anual gerada pelas onças foi 56 vezes superior ao dano anual hipotético causado ao gado em uma área equivalente para suportar a população de onças. Em termos de benefício líquido, a coexistência com a população selvagem de onças resultou em um benefício mínimo de 6,7 mil dólares para a área de estudo em 2015.
Um motor econômico em expansão
O Pantanal abriga uma das maiores densidades de onças-pintadas do mundo. O turismo nessa região é relativamente recente (menos de 20 anos), mas está em rápido crescimento.
O pesquisador Fernando Tortato, da ONG Panthera, estimou que há mais de 10 anos a onça-pintada movimentava cerca de 7 milhões de dólares anuais em Porto Jofre. No entanto, considerando a inflação e que o movimento de turistas mais do que triplicou, uma estimativa atual, considerada ainda conservadora, aponta para mais de US$ 20 milhões por ano movimentados em torno da onça-pintada nesta única região do Pantanal.
Este valor crescente e altamente conservador, que tende a se acelerar nos próximos anos, demonstra o poder do argumento financeiro para a conservação. Em termos de retorno por área, o turismo gera uma receita bruta mínima de US$ 84,3 por hectare, o que é aproximadamente três vezes superior à receita de uso da terra estimada para a pecuária bovina tradicional na mesma área.
A economia gerada pelo turismo de observação de onças é crucialmente local, beneficiando pousadas, piloteiros (guias de barco), restaurantes e bares.

O turismo de vida selvagem tem sido cada vez mais utilizado como um argumento financeiro robusto para a conservação das espécies. O dinheiro movimentado para proteger a onça-pintada serve como uma excelente ferramenta, um “guarda-chuva” que ajuda a proteger todo o ecossistema do Pantanal.
Apesar do enorme retorno financeiro do ecoturismo, permanece uma assimetria na distribuição dos custos e benefícios: enquanto os operadores turísticos lucram com a alta densidade de onças, os fazendeiros vizinhos, cuja terra apoia a população de onças, arcam ocasionalmente com prejuízos de depredação.
Foi revelado que os turistas estão altamente dispostos a contribuir financeiramente:
- 96% dos turistas entrevistados concordaram que um esquema de compensação seria necessário para cobrir os custos da depredação de gado;
- 95% acreditavam que o turismo de onças poderia ser uma fonte tangível de receitas para esse esquema;
- 80% concordaram em doar, em média, 6,8% do valor de suas diárias all-inclusive para esse programa de compensação.
Considerando o custo médio diário de hospedagem por turista (US$ 412), esses 6,8% representariam uma média diária de US$ 28 por turista em taxas de doação voluntária.
Apenas com uma doação única de US$ 32 por parte de 3.808 turistas (a fração de turistas dispostos a pagar pela compensação em 2015), o valor total do dano hipotético causado pelas onças à pecuária em toda a área de estudo seria coberto.
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