Cinira: mulher intensa, mãe, irmã e tia com planos ceifados por feminicídio
Vítima foi morta no dia 31 de julho de 2025 em Ribas do Rio Pardo ao tentar se separar do marido
Caçula de quatro irmãos, recém-formada em pedagogia e cheia de projetos, Cinira foi morta no dia 31 de julho de 2025 em Ribas do Rio Pardo ao tentar se separar. Para a família, ela será lembrada pelo amor e intensidade com que viveu.

No dia 31 de julho, ao buscar seus pertences na casa em Ribas do Rio Pardo após anunciar a separação, foi surpreendida. O ex havia premeditado o crime, escondendo-se dentro do imóvel.
Quando ela entrou, foi atacada com diversos golpes de faca. Uma amiga que a acompanhava conseguiu escapar. Cinira não resistiu.
“Ele mentiu que não estava em casa, pra ela buscar as coisas, ela foi acompanhada de uma amiga, e ele estava escondido na casa. Quando ela entrou, ele golpeou minha irmã. Acabou tirando a vida da minha irmã e a menina correu”, afirma Angela de Brito, irmã de Cinira.
Cinira de Brito era a caçula de quatro irmãos. Para Angela, a mais velha, ela não era apenas irmã: era quase como uma filha.
“O mundo podia acabar, que o negócio dela era estar aqui em casa comigo e com meus filhos. Ela era aquela tia bem presente. Eu sou avó, e ela era a primeira a postar as fotos e vídeos dos meus netos, antes mesmo de mim”, relembra.
Intensa, sonhadora e afetuosa, Cinira era uma mulher de muitos papéis: filha dedicada, mãe de dois rapazes e tia carinhosa. Sua ausência hoje é sentida em cada espaço da família.
“Se ela não era importante para ele, para nós ela era a nossa vida”.
Angela
Recém-formada em pedagogia, Cinira também havia concluído um curso técnico em segurança do trabalho. Animada com as novas possibilidades, planejava seguir a carreira na educação.
“Ela estava com mil e um projetos, bem animada. Dizia que queria trabalhar na área, que a fazenda não era o que ela sonhava. Por isso pensava em se separar, porque queria ter estabilidade e exercer sua profissão”, conta a irmã.
Na casa da família, em Presidente Venceslau (SP), um caderno permanece como testemunho dos planos que não chegaram a se realizar: a lista de convidados de uma festa que ela queria organizar.
“Ela tinha planos. E ele ceifou tudo isso”, lamenta Angela.
No dia 28 de agosto de 20205, menos de um mês após sua morte, Cinira completaria 45 anos.
Cinira conheceu o ex-marido Anderson pela internet e, há cerca de oito anos, mudou-se para Mato Grosso do Sul para viver com ele.
Aparentemente, era um relacionamento estável, sem sinais de agressividade. A decisão de se separar veio quando ela percebeu que os planos dele não coincidiam com os dela.
A morte abalou profundamente a todos, em especial o pai, que tinha na filha caçula uma ligação especial.
“O meu pai está abaladíssimo, porque mesmo ele tendo mais três filhos, a Cinira era a caçula. A Cinira poderia ir morar onde fosse, meu pai ia visitá-la”.
Angela
O filho mais velho de Cinira, vive agora uma dor dupla: ficou órfão de pai e mãe. O pai havia morrido jovem, vítima de afogamento, anos antes. O caçula, Vinícius, ainda conta com o pai vivo, mas também enfrenta a ausência da mãe.
Após matar a vítima, Anderson Aparecido de Olanda, de 41 anos, tentou tirar a própria vida se esfaqueando. Testemunhas acionaram o Corpo de Bombeiros, que resgatou o autor ainda com vida.
Ele foi levado em estado grave para a Santa Casa de Campo Grande. No entanto, o agressor não resistiu e morreu horas depois.
Em meio à dor, a fé tem servido de consolo. A família acredita que a justiça maior virá.
“Eu coloquei isso nas mãos de Deus. Ele vai se acertar lá, de um jeito ou de outro. O que não justifica, em hipótese alguma, é tirar a vida de alguém. Eu disse isso até para meus sobrinhos: jamais defenderia alguém que matou outra pessoa.”
Ao mesmo tempo, a irmã reconhece que a sensação de não ver o agressor foragido ou em liberdade traz um certo alívio.
“Um pouco que ameniza foi saber que ele não está vivo, nem foragido, porque tem muitos casos que eles ficam foragidos. Mas é difícil demais e cada dia que passa, vai ficando mais difícil. Porque você começa a sentir falta, com saudade e só ficam as memórias”.
Angela
Para a família, uma grande mágoa é a carta deixada pelo agressor, tentando manchar a memória de Cinira. Mas Angela rejeita essa narrativa:
“Ele foi tudo, menos herói. Foi covarde, foi fraco. Se ela era tudo aquilo que ele escreveu, por que ficou com ela oito anos? A verdade é que ele não aceitou perdê-la. Mas ninguém tem o direito de tirar a vida de outra pessoa.”
O que permanece, para além da tragédia, é a lembrança da mulher cheia de vida e de sonhos. A vítima não foi apenas um número em uma estatística de feminicídio. Ela foi filha, irmã, tia, mãe, amiga.
“A Cinira era intensa em tudo. Intensa no amor, nas amizades, nos planos. Ele tirou ela das nossas vidas. Agora a gente vai ter que conviver com essa saudade e tem que continuar vivendo. Não tem o que fazer”, finaliza a irmã.
Angela
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Violência doméstica — seja psicológica, física, moral ou verbal — é crime e precisa ser combatida. Saiba como denunciar:
- Emergência: se a agressão estiver acontecendo, ligue 190 imediatamente;
- Central de denúncias: disque 180. O atendimento é gratuito, sigiloso e funciona 24 horas por dia, todos os dias. Também é possível denunciar via WhatsApp: (61) 9610-0180;
- Presencial: procure a delegacia mais próxima ou acione a Polícia Militar pelo 190;
Em Mato Grosso do Sul as denúncias de violência de gênero podem ser feitas de maneira on-line. Clique aqui e faça a denúncia.
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