Em dois anos, 166 filhos perderam suas mães para o feminicídio em MS
Em dois anos, ao menos 166 crianças, adolescentes e adultos ficaram órfãos em Mato Grosso do Sul, porque as mães foram assassinadas. Os dados fazem parte do Mapa do Feminicídio e indicam que, além das mulheres, há muitas outras vítimas indiretas desse tipo de crime. Para se ter noção, 40 mulheres foram vítimas de feminicídio […]
Em dois anos, ao menos 166 crianças, adolescentes e adultos ficaram órfãos em Mato Grosso do Sul, porque as mães foram assassinadas. Os dados fazem parte do Mapa do Feminicídio e indicam que, além das mulheres, há muitas outras vítimas indiretas desse tipo de crime.
Para se ter noção, 40 mulheres foram vítimas de feminicídio no Estado em 2020. Estas mortes resultaram em 85 filhos e filhas afastados do convívio de suas mães.

No ano anterior, 30 mulheres foram assassinadas no Estado, sendo que 23 delas eram mães. Isto quer dizer que 81 filhos e filhas ficaram órfãos, porque mulheres foram vítimas do feminicídio.
Este ano, o Estado já contabiliza sete assassinatos de mulheres, sendo dois apenas na Capital. Francielle Guimarães Alcântara, de 36 anos, foi torturada durante 30 dias na frente do caçula de 1 ano e 8 meses antes de morrer. Ela tinha outros dois filhos.
A filha de Natalin Nara de Garcia Freitas Maia, de 4 anos, foi levada pelo pai até a escola sem imaginar que o corpo da mãe dela estava no porta-malas.
‘Mamãe morreu no hospital’
No último domingo (6), após encontrarem o corpo de Natalin Nara de Garcia de Freitas Maia, de 22 anos, policiais do GOI (Grupo de Operações e Investigações) foram até a casa da vítima conversar com o marido dela, Tamerson Ribeiro Lima de Souza, 31.
Quando chegaram até a residência, encontraram o suspeito acompanhado da filha do casal. Os policiais não revelaram que ela já havia sido encontrada e passaram a questionar o marido.
Enquanto Tamerson mentia sobre o paradeiro da mulher para três policiais, a criança conversava separadamente com outro investigador que tentou distraí-la.

“A mamãe morreu no hospital. Passou mal e o papai levou para o hospital”, contou ao policial, sem saber que o pai tinha cometido um crime.
Preocupado com a informação, o investigador ainda perguntou: “cadê o celular da mamãe?”. Ela apontou para o guarda-roupas. “O celular da mamãe está aqui em cima. Papai guardou lá”.
Tamerson foi levado para a delegacia, onde confessou ter matado a mulher com um golpe de mata-leão. Ele ficou com o corpo até a manhã do dia seguinte e o abandonou às margens da BR-060, pouco após ter deixado a filha na escola.
Após ele ter sido preso, a menina foi entregue para o avô materno.
Madrasta de Natalin, Simone Vilela, demorou para aceitar o fato de que o genro era suspeito pelo crime e lamentou o fato de o casal não ter se separado em comparação com a tragédia que se abateu sobre a família.

“A partir do momento que acabou o respeito o mais certo é seguir a vida. Melhor você ter uma criança separada do pai do que a criança não ter pai nem a mãe, como aconteceu com agora. Porque agora ela não vai ter nem o pai nem a mãe”, declarou se referindo a neta.
Simone Vivela, madrasta de Natalin.
Vítimas indiretas do feminicídio
Por mais dramático que seja este relato, não se trata de um caso isolado e reflete como o feminicídio não atinge apenas as mulheres, mas toda a família.
“Não consigo aceitar que isso aconteceu com ela”, diz filha de mulher torturada e morta pelo marido

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Em declaração publicada no Mapa do Feminicídio, a defensora pública e coordenadora do Nudem (Núcleo de Defesa da Mulher da Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso do Sul), Thais Dominato reforçou que a violência doméstica não afeta apenas as mulheres.
Nos casos dos feminicídios se faz necessário ir além da punição do agressor como resposta, tirando da invisibilidade as crianças e adolescentes que ficam sem suas mães e que precisam de cuidado imediato e efetivo para que consigam romper com a cultura da violência na busca de uma vida minimamente saudável.
Thais Dominato
Dentre esses cuidados, a defensora reforça a necessidade de se pensar na saúde mental dessas pessoas que perderam suas mães.
“Ofertar o acompanhamento psicológico para esses filhos e filhas significa criar mecanismos reais e efetivos para o rompimento do ciclo de violência e a política pública tem papel fundamental na criação de estratégias e desenvolvimento desse fluxo de atendimento”, finalizou.
Thais Dominato
Queixas
Denúncias sobre violência doméstica podem ser feitas junto à Polícia Militar pelo telefone 190. Isto quando o atendimento é emergencial.
Outro canal é a Central de Atendimento à Mulher pelo número 180. Neste caso, o serviço registra a denúncia e encaminha para os órgãos competentes.
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