Feminicídio de Olizandra revela violência invisível em MS

Olizandra foi a 3ª mulher indígena vítima de feminicídio em MS; o estado lidera ranking com maior número de crimes do tipo contra indígenas

Há três meses, Olizandra Vera Cano, de 26 anos, foi assassinada na Aldeia Taquaperi, em Coronel Sapucaia, pelo próprio companheiro. Ela se tornou mais um nome na dolorosa estatística de mulheres vítimas de feminicídio em Mato Grosso do Sul, que já soma 22 casos.

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Recepção da Deam (Foto: Adriano Fernandes)

Nesta série de reportagens, que tráz um memorial das vítimas de feminicídio, o Primeira Página relembra o caso de Olizandra, jovem que além de entrar para a estatística de mulheres no geral, também integra o triste censo de crimes de feminicídio contra mulheres indígenas.

Olizandra deixava um filho pequeno e familiares que agora vivem com a ausência e a dor provocadas por uma violência que poderia ter sido prevenido. Assim como na maioria dos casos, Olizandra teve a vida tirada após uma discussão com o companheiro, Celso Irineu, 32 anos, que reagiu de maneira desproporcional, a agredindo brutalmente.

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Seu algoz, que negou o crime, admitiu que a discussão iniciou devido ao preparo do jantar e que, segundo seu relato, a esposa teria pegado uma faca. O boletim de ocorrência, no entanto, aponta que o homem estava sob efeito de álcool e apresentou versões desconexas e contraditórias sobre os fatos. 

Exames posteriores mostraram que a mulher não teve se quer chances de receber atendimento para salvar sua vida: ela teve um corte profundo no pescoço. Na tentativa de sair ileso do crime, o assassino chegou a alegar que ela mesma teria feito o ferimento. 

Rembrar Olizandra é também lembrar da necessidade de dar voz e proteção às mulheres indígenas. Cada história interrompida pela violência é um alerta para a sociedade e para o Estado: é urgente que os casos não sejam apenas contabilizados, mas que inspirem ações concretas de prevenção, educação e cuidado.

Celso Irineu segue preso no Estabelecimento Penal de Amambai, onde aguarda julgamento.

Mulheres indígenas e violência de gênero

Olizandra é a terceira vítima indígena registrada este ano no estado. As anteriores foram Emiliana Mendes, de 68 anos, em Caarapó, e Juliana Domingues, de 28 anos, na Aldeia Tekoha Nhu Porã, em Dourados.

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Dados do Relatório Técnico sobre Homicídios contra Mulheres e Adolescentes Indígenas no Brasil, desenvolvido pela Universidade Federal do Paraná em parceria com o Ministério dos Povos Indígenas, revelam que os casos de feminicídio de mulheres indígenas aumentaram 500% entre 2003 e 2022. 

A região Centro-Oeste concentra o maior número de casos, e Mato Grosso do Sul lidera com 149 homicídios registrados.

O relatório também aponta que essas mulheres enfrentam diversas barreiras para denunciar seus agressores, como medo, vergonha, receio de represálias e desconhecimento sobre canais de denúncia.

Historicamente invisibilizadas, elas estão expostas a múltiplas formas de violência, física, psicológica e social, e sua proteção ainda enfrenta desafios estruturais dentro e fora das aldeias.

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Observatório da Violência contra Mulheres Indígenas | (Reprodução/Amior)

Segurança à mulher indígena

Mato Grosso do Sul tem o Programa Mulher Segura Indígena da Polícia Militar, que atua em cidades do estado, como em Dourados e Amambai.

Desenvolvido desde de 2023, o Promuse Indígena tem como objetivo principal combater a violência de gênero e promover a segurança das mulheres indígenas, por meio da criação de laços de confiança entre as comunidades e as forças policiais.

Conforme divulgado pelo Governo do Estado, o projeto foi idealizado pelo comandante do 3º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Samuel Castilho de Aragão, foi considerado a 2ª melhor iniciativa da segurança pública de Mato Grosso do Sul.

A iniciativa, nasceu da necessidade de reduzir os casos de feminicídios nas aldeias, com a fiscalização de 100% das medidas protetivas que tem mulheres indígenas como vítimas. A Promuse Indígena atua, por exemplo, nas aldeias de Panambizinho, Jaguapiru e Bororó, essas três aldeias na região de Dourados.

Em informações divulgadas em fevereiro mostravam que, naquele momento, nos últimos 5 anos, 13 mulheres indígenas foram vítimas de feminicídios em Mato Grosso do Sul, três delas no interior da Aldeia Jaguapiru. 

Caminho para denúncia

🚨 Denuncie a violência contra a mulher

Violência doméstica — seja psicológica, física, moral ou verbal — é crime e precisa ser combatida. Saiba como denunciar:

Emergência: se a agressão estiver acontecendo, ligue 190 imediatamente;

Central de denúncias: disque 180. O atendimento é gratuito, sigiloso e funciona 24 horas por dia, todos os dias. Também é possível denunciar via WhatsApp: (61) 9610-0180;

Presencial: procure a delegacia mais próxima ou acione a Polícia Militar pelo 190;

Em Mato Grosso do Sul as denúncias de violência de gênero podem ser feitas de maneira on-line.

Clique aqui e faça a denúncia.

⚠️ Violência contra a mulher não pode ser ignorada. Basta! Denuncie.

Selo Basta
Basta, campanha contra violência doméstica e feminicídio do Primeira Página

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